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Quando um gigante se vai, mas deixa um legado

  • Foto do escritor: Carlos Formigari
    Carlos Formigari
  • 1 de jun.
  • 2 min de leitura

Estávamos voltando para São Paulo, eu e Kite, depois de um dia intenso de trabalho na Reserva Amantikira, quando a notícia nos pegou de surpresa, ali, no carro, no meio do estrada. Ficamos em choque: Sebastião Salgado tinha partido. Naquele instante, as lembranças dos últimos anos passaram como um filme. Como, mesmo sem o conhecermos pessoalmente, ele e Lélia foram para nós uma fonte de inspiração para nosso projeto na Reserva.


Sebastião nos ensinou a ver o mundo com outros olhos. Suas fotografias, do Exodus ao Gênesis, não são apenas imagens: são testemunhos profundos, revelações do que somos e do que temos diante de nós, a beleza crua, a dor silenciosa, a resistência da natureza e da humanidade. Ele sempre mostrou que a fotografia pode ser um grito de consciência, um chamado à ação.


E esse chamado encontrou eco no Instituto Terra, que ele e Lélia fundaram no coração do Vale do Rio Doce, também em Minas Gerais, mas em direção ao Espírito Santo. Uma área arrasada pela degradação, transformada por suas mãos e pela força da vontade em um verdadeiro refúgio de vida. Mais de 2,5 milhões de árvores plantadas, centenas de espécies nativas reintroduzidas, uma nova chance para a Mata Atlântica e para as pessoas que ali vivem. E um centro de educação que capacitou milhares, espalhando sementes de regeneração pelo Brasil e pelo mundo.



Fotos com cerca de 20 anos de diferença, na Fazenda Bulcão, sede do Instituto Terra.
Fotos com cerca de 20 anos de diferença, na Fazenda Bulcão, sede do Instituto Terra.


Nós, separados por uma geração, nos encontramos na mesma missão. Mesmo em dimensões tão diferentes, mesmo em mundos aparentemente distantes, sentimos a mesma urgência e o mesmo propósito.


Aqui na Reserva Amantikira, estamos tentando devolver a vida à Serra da Mantiqueira: restaurar nascentes, reflorestar com araucárias, abrir trilhas, proteger a biodiversidade, criar um espaço de aprendizado e acolhimento. E mesmo com nossos passos ainda pequenos, já vemos a transformação acontecer.


Nos últimos anos, mergulhamos ainda mais nesse universo que Sebastião e Lélia ajudaram a construir. Na pequena biblioteca que vamos abrir na Reserva Amantikira, já temos vários exemplares dos livros de Sebastião. São mais do que fotografias emolduradas: são lições, inspirações, convites à reflexão e à ação.


Sebastião se foi, mas a sua obra e o seu legado continuam a nos guiar. Continuam em cada muda plantada, em cada passo que damos em nossas trilhas, em cada olhar lançado para a Serra da Mantiqueira com a esperança de que a regeneração é possível. Que possamos, todos, ser também agentes dessa mudança, como ele e Lélia nos ensinaram.

 
 
 

1 comentário


Luciane Martines
Luciane Martines
01 de jun.

Certamente seu legado foi deixado e Amantikira é um belo exemplo de

renascer e reflorescer.

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