Nada é igual: a beleza das diferenças
- Carlos Formigari

- 19 de jul.
- 3 min de leitura
Quando tinha 20 anos, durante o intervalo do almoço no estágio que eu fazia na Açúcar União, escrevi uma frase que carrego comigo até hoje: “Nada é igual. As diferenças é que podem ser insignificantes.”
Na época, eu falava da significância estatística. Era um estudante e fascinado pela ideia de que, por trás de qualquer conjunto de dados, existem variações, umas perceptíveis, outras aparentemente tão pequenas que se perdem na média. Mas, com o tempo, percebi que essa frase ganhou muitos outros significados. Ela se tornou um guia não apenas para minha carreira como estatístico e empreendedor, mas também para minha forma de enxergar o mundo, a natureza e as pessoas.
A estatística como metáfora da vida
No universo dos números, aprendemos que as diferenças são tudo. Elas são a essência da análise. Um resultado só é relevante quando conseguimos demonstrar que a diferença observada não é fruto do acaso. Assim também é com a vida, nem sempre as diferenças são visíveis de imediato, mas elas existem e moldam a realidade de formas profundas.
Lembro-me das palavras do querido Professor Ademir Petenatti, que nas aulas de Planejamento de Experimentos nos dizia com um sorriso:
“Nunca podemos nos esquecer de acender uma vela para agradecer à Santa Variabilidade a existência da nossa profissão.”
Essa frase me marcou porque vai além da variância estatística. Ela fala de uma reverência à pluralidade, seja de ideias, pessoas, culturas ou formas de vida.
Diversidade como força e transformação social
Ao longo da minha trajetória, percebi que a diversidade também é um motor de transformação social. Foi com esse espírito que nasceu o programa Jovem Data Learner, voltado para jovens periféricos recém-egressos do ensino médio. O programa de formação é liderado com enorme sensibilidade pelos meus sócios e amigos Roberto e Leonardo, que desenvolveram a metodologia de ensino do programa, sempre valorizando o potencial único de cada participante.

Alguns dos Jovens Data Learners formados pelo Programa JDL
Cada jovem que passa pelo programa carrega consigo uma história de vida singular. Quando esses talentos encontram o ambiente certo, as “diferenças insignificantes” tornam-se força criativa, novas oportunidades de futuro e transformação de realidades.
A lição da Reserva Amantikira
Minha conexão com a diversidade também se fortaleceu por meio da natureza. Na Reserva Amantikira, na Serra da Mantiqueira, tenho aprendido diariamente sobre o poder da biodiversidade. Esse aprendizado se tornou ainda mais rico ao lado da minha esposa, Kite, que lidera todo o processo de restauração florestal. Ela me mostra, com seu olhar sensível e prático, como cada árvore, cada espécie e cada detalhe do ecossistema tem um papel essencial para o equilíbrio da vida.

Assim como nas florestas, onde um pequeno fungo pode sustentar a vitalidade de uma árvore centenária, na vida e nas organizações são as diferenças, por vezes imperceptíveis, que mantêm o sistema vivo, dinâmico e capaz de se regenerar.
O indivíduo como universo
Essa filosofia se estende às pessoas. Por mais que a sociedade tente uniformizar comportamentos, cada ser humano é único. Cada encontro carrega a chance de revelar algo novo, de aprender, de se transformar. É preciso um olhar atento, novos “óculos” para perceber o valor de quem está diante de nós.
Não existe “cópia” quando falamos de indivíduos. Cada um é um universo. A diferença está sempre lá, mesmo que os nossos instrumentos ainda não sejam sensíveis o bastante para captá-la.
Celebrar as diferenças
Mais de 30 anos se passaram desde que escrevi aquela frase. Hoje veja que aquele lampejo foi, na verdade, um convite, um convite para olhar a vida com curiosidade e respeito, entendendo que são as diferenças, grandes ou pequenas, que nos tornam vivos, inovadores e humanos.
“Nada é igual. As diferenças é que podem ser insignificantes.” Que bom!



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